Nega, tu era minha inspiração.

Nega, tu era minha inspiração. Não pense que não. Era com você que eu falava sobre os benefícios de se dançar salsa e você queria discutir política. Eu chegava em casa e escrevia até amanhecer. Nem parecia que a gente tinha só vinte e poucos. Teve também aquela noite que sentamos no porta malas do carro e ficamos tomando um uísque ruim. Depois eu escrevi 20 páginas. Não reescrevi jamais. Naquele dia tu queria escrever uma carta para o presidente, falar das merdas que estavam acontecendo, dos estudantes sem emprego. Será que você ainda é assim? Desculpa se eu te fiz, várias vezes, parar de falar sobre assuntos sérios pra cantar “sexual healing” pela janela do carro em alta velocidade. Era bobo, mas era minha inspiração. Você não imagina como você ficava musa com os cabelos embaraçados de vento. Como era errado e era bom. Você bebia e dizia ‘espera um minutinho, eu só preciso descalçar os meus sapatos pra relaxar’ e  acabávamos correndo descalços por um parque qualquer. Nega, te peço: volta. Preciso terminar de escrever o livro da minha vida e tu és a personagem principal, sentada num banco qualquer, com um vestido florido, um charuto e um livro. Volta, pra fazer minhas ideias dançarem como duendes num gramado (desses que você queria me convencer que existiam). Volta, pra eu tirar minha camisa e colocar um calção florido pra você zoar com a minha cara, em ocasiões assim eu escrevo muito sobre mim. Volta, nega.

A grande merda foi que eu sonhei com você.

A grande merda foi que eu sonhei com você. Não aqueles sonhos aspiracionais. Aqueles sonhos literais, quando a gente fecha o olho a noite na paz (ou não!) do nosso travesseiro. E aí, bom, aí eu acordei pensando em você. E sou daquelas pessoas que quando pensa muito traz de volta todas as memórias, e sou daquelas que guardo memórias olfativas e CARA!, teu cheiro era bom demais!

E o que era pra ser um dia normal e leve, tornou-se um dia sufocante. Eu tava lá, levando a minha vida e veio o teu cheiro. Me lembrei que você usava um perfume tão comum, desses que todo mundo usa, mas só você tinha aquele cheiro. Ai eu tava lá escovando os dentes e me deu um arrepio, daqueles quando você encostava as costas da tua mão no meu braço.  Qualquer segundo de desatenção já era motivo pra eu ter que balançar minha cabeça pra ver se no balanço os pensamento saiam voando pra fora da janela.

A minha vida tava boa, tava suave. Os dias eram todos azuis. Eu passava um bom tempo procurando o que ver na Netflix. Eu ouvia todas as manhãs a mesma playlist. Eu sempre tomava meu café com pouco açúcar. A grande merda foi que eu sonhei com você. Porra Freud, por quê?  E naquele dia eu fiquei mais de meia hora assistindo o canal de propaganda da Sky, coloquei os fones mas não dei play e, sabe Deus, quantas colheres de açúcar tinham no meu café (intomável).

Não sofro mais disso: hoje acordei com você, teu cheiro estava no meu travesseiro. A vida ficou boa, ficou suave.

 

 

Sobre enterrar e viver de lembranças.

Descobri que morri. Não sei se foi em uma quinta-feira de 2015. Ou se foi no outono do ano seguinte. A melhor teoria é de que foi aos pouquinhos. Fui morrendo todo dia por fazer todas as coisas necessárias mas que não me faziam feliz. E o que era vazio se tornou maciço, logo virou monstro, que me sugou. Fucei minhas redes sociais, desenterrei fotos do meu Facebook, frases absurdas do meu Twitter. E aí vi que você também tinha morrido. E junto todas as nossas histórias, que nem eram tão longas assim, mas que eram nossas e existiram. Nossos amigos também. Hoje já nem me lembro do som da risada deles.

Descobri que renasci. Mas isso também foi aos pouquinhos e há muito tempo atrás. Desconfio que a cada morte nascia uma nova eu. Que a cada noite, quando eu fechava os olhos pra dormir, algo meu ficava pra sempre naquele dia. No começo achei que ficava imortalizado. Mas depois percebi que ficava enterrado. Como o dia em que você disse que eu era louca. Bom, abri os olhos e eu tinha algo novo, um sopro, um embrião, algo nascendo.

Sorte a nossa poder acordar todos os dias e começar uma história diferente. No final das contas é só o que sobra, as histórias, guardadas em lembranças meio tortas e bem pessoais. Como o dia em que todo mundo acampou na praia e choveu. E quando eu fiquei te esperando depois do trabalho mas com vontade de ir embora e no final das contas foi um noite legal. E aquela manhã quando você disse que ia embora e que era pra eu ficar.

Sorte a minha que agora eu gosto de outras coisas. Daquela época sobraram só algumas músicas, uns 3 ou 4 livros e aquele lugar de onde costumávamos pedir comida nas quintas-feiras. Não gosto mais de acampar. Tenho novos amigos. Até o lençol agora é diferente.

FENIX

 

 

 

Pessoas que existem.

Se você pensa por alguns minutos na pessoa que você é, se tornou, se transforma, onde está e como chegou até aí, você percebe como a vida é realmente maravilhosa.

Dias desses estava sentada almoçando sozinha em uma mesa para 4 pessoas. Estava tão entretida pensando no que eu tinha que fazer após o almoço que era como se todas as pessoas ao meu redor nem existissem. Mas aí, passaram a existir. Passaram a existir quando um homem, nos seus quarenta e poucos anos, colocou seu prato bruscamente na mesa e sentou-se. Não disse nem uma palavra, nem mesmo olhou nos meus olhos. Por um instante eu pensei: – claro, pode se sentar, sem problema nenhum – imaginando na minha cabeça que ele pediu licença gentilmente. E, logo no segundo seguinte eu pensei – ele deve estar num dia ruim.

No próximo segundo (sim, isso tudo foi muito rápido) eu olhei e ele estava com as mãos juntas orando, agradecendo ao seu Deus, seja ele qual for, por aquele alimento, aquela refeição que 13 milhões de brasileiros não tem acesso e, pasmem, 870 milhões de pessoas no mundo! Foi aí que eu sorri, porque percebi o quanto outras pessoas que até então nem existiam passam a existir e nos ensinar coisas sobre a vida.

E, enquanto eu pensava nisso, atenta ao todas as outras pessoas ao meu redor, outra pessoa sentou-se na mesa. E logo os dois começaram a conversar, animadamente, em libras. Me senti idiota, me senti ingrata, e depois me senti sortuda. Por aprender sem dor o que cada um pode nos ensinar.

Se você não é a pessoa que você gostaria de ser, torne-se. 

luzes

Invisível

A verdade é que eu me sinto como um daquele grandes cortes de vidro carregados por apenas dois homens por 28 lances de escada. Sou grande demais pra um elevador. Sou frágil demais pra qualquer tentativa arriscada. Tenho marcas de sujeira, dedos e mãos. Custei caro e dou trabalho. Se não fosse por toda a escadaria até o décimo quarto andar, quase ninguém teria me notado. As pessoas passariam com pressa e veriam apenas o outro lado. Para a maioria das pessoas que passa a uma certa distância, eu nem existo. É como se eu fosse, na verdade, a distância exata de 1,80 metros entre um homem e outro com luvas emborrachadas. Eles sim estão atentos, ouvindo cada aproximação rápida, cada pessoa que chega na perpendicular, qualquer criança correndo, qualquer um desatento ao celular. Eles sabem o movimento perfeito para dobrar cada andar. Sabem o quanto peso, o quanto custo.
A verdade é que eu pareço um pouco invisível. Mas se eu quebrar, aí sim vão se importar.

(in) confortável

Sabe quando você se senta de um jeito esquisito e não percebe que seu pé começou a formigar? E aí você levanta. E aí você cambaleia. E aí pula, samba, se segura. Tem até os mais desastrados que espatifam a cara no chão. Você pode rir e seguir sua caminhada normalmente. Pode dizer uns palavrões e ficar bravo sem saber direito o motivo. Ou pode ficar ranzinza, culpando o mundo. E olha que comparação boba: a vida é assim.

As vezes você tá tão acomodado que nem percebe que alguma coisa não funciona direito. E, quando percebe, se desespera e decide fazer algo logo, aí cambaleia, e aí pula, samba, se segura. Se espatifa inteiro, se desmonta, cai bem fundo. Você pode rir, aprender, seguir sua jornada normalmente. Ou você se torna aquele velho chato, o reclamão, ser humano ingrato. Mas olha só: ser assim não te leva de volta ao ponto em que decidiu se sentar confortavelmente na vida.

Deixa sua energia circular, movimenta sua alma, não deixa nada adormecido tipo um pé esquecido bem debaixo do seu bumbum. Take care of yourself, brow.

Gratidão Parte II: grata ao tempo

Quando eu escrevi o texto gratidão parte I (que você pode ler aqui) eu jamais imaginaria que eu demoraria 2 anos pra voltar ao blog. E esse meu back to black casou muito bem com esse assunto que ficou pendente, então fica aqui a reflexão da parte II: a gratidão e o tempo.

Quem nunca usou para reparar e própria dor aquele ditado que diz que o tempo cura tudo? E se o tempo cura mesmo quanto tempo leva para entendermos que cada experiência que merece ser curada também merece ser gratificada por aquilo que nos ensinou? Nada é de todo mal. Crescemos e aprendemos quando erramos. Devemos aprender. E devemos aprender a sermos gratos por isso. Ou porque saímos das experiências negativas mais fortes, ou mais preparados para o futuro, ou menos inocentes, menos medrosos. Os aprendizados são os mais variados.

Exercer a gratidão quando ela parece não caber no cenário é algo que o tempo também ensina. Te-la como hábito muda nossas vidas. E quando repito que nada é de todo mal, é só pra nos lembrar que podemos ser gratos pelas pequenas coisas: se erramos com quem amamos, somos gratos pelo perdão que recebemos, ou por aprender a lidar com as frustrações dos relacionamentos, ou por ter coragem de assumir o erro. Se erramos com nós mesmos, somos gratos já que é a oportunidade para aprendermos a nos conhecer melhor, nos ouvirmos mais, a identificar nossos defeitos.

Então, just be grateful.

Ha 2 anos atrás a aprendi o que era gratidão, e hoje, depois de tornar um hábito na minha acordar pela manhã e ser grata pelas coisas que vivo, eu entendi, o tempo amadurece nossos sentimentos.

Quando você se torna grato – parte I

Pensamos que  felicidade é nunca ter um instante de tristeza. Vivemos a vida correndo atrás dela. Vivemos a vida atrás de empregos nos quais sejamos felizes e ricos. Atrás de relacionamentos que sejam perfeitos. Atrás de corpos, de carros, de coisas. E achamos que isso é felicidade.

Poucos de nós aprendem que felicidade é algo pessoal, uma concepção, um modo de ver, sentir e viver, diferente para cada um de nós. Poucos de nós aprendem a desenvolver a felicidade própria. Compatível ou não com a sociedade.

Costumamos dizer que a felicidade mora nas pequenas coisas. Mas quantos de nós acreditam realmente nisso? A gratidão sim, mora nas pequenas coisas.

Quando você se torna grato seu sofrimento diminui. A gratidão é algo tão ínfimo frente a nossa existência mas também é imensa. Ela é capaz de preencher tudo em nossas vidas.
Existe um ditado que diz:

‘Não são as pessoas felizes que são gratas, são as pessoas gratas que são felizes’.


Gratidão não é ajoelhar-se e rezar ao seu Deus. Gratidão é desenvolver uma consciência sobre a vida, reconhecimento do que você dá e recebe. Sua vida não vai ser 100% boa em 100% do tempo. Mas seja grato a cada 1% que você vive. Seja grato a cada experiência, boa ou ruim, cada conquista, cada aprendizado (vindo de um erro ou não). Just be grateful.

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Você pode mudar ‘de’ sonhos.

Eu quero falar sobre sonhos.

Passam a vida toda nos dizendo para correr atrás dos nossos sonhos. Desistir não é uma opção.
Os mais realistas nos ensinam a colocar metas, estipular prazos, planejar o que precisa ser feito. Outros nos dizem ‘se você desejar com toda a sua força, vai acontecer’, ‘mentalize todos os dias o seu sonho se realizando’.
Ambos concordam: seu sonho só depende de você, ninguém mais pode sonhar e viver pelo seus sonhos.

Mas não vivemos sozinhos, não estamos em uma ilha. Seus sonhos podem impactar muitas pessoas ao seu redor. Isso não quer dizer que você deve desistir deles apenas para fazer outra pessoa feliz.
Dá pra ser mãe sem ter pai.
Dá pra ser família sem ser hetero.
Dá pra ter sucesso profissional e ter filhos.
Dá pra morar fora e não se desligar pra sempre da família.
Dá sim, ninguém disse que seria fácil, mas dá.

Tem coisas que não dá.
Não dá pra casar sozinho, ir até o altar usando o vestido de noiva que você sempre desejou. Dançar a valsa em uma festa para poucos amigos, mas com a decoração que você escolheu desde criança. Você precisa de outra pessoa. Ela não precisa sonhar o mesmo sonho. Mas tem que querer te ajudar a realizar o seu.

Quando eu tinha 19, minha irmã usou um vestido de noiva na sua festa de 15 anos. Eu nunca faria isso. Sempre achei que provar um vestido de noiva era como um ritual que deveria ser feito quando você tivesse a data marcada. Aliás, sempre achei que eu me casaria com um vestido princesa com decote coração, que a decoração seria com tons pastéis, que haveria um padre, beijo, brinde, bolo, valsa, banda. Que moraríamos em um casa branca, com garagem grande, gramado verde, cachorro. Que eu ia cozinhar muito bem, que teria vinhos na banheira.

Esse sonho era perfeitamente possível de ser realizado. Acontece que eu mudei de sonho. Não desisti, apenas percebi, na metade do caminho, que talvez você não precise se prender aos sonhos pra ser feliz 😉

Ps.: hoje eu não usaria um vestido com decote coração. E minha casa não seria branca.

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Entre mortos e feridos, um ano bom.

Sim. Este é um post chato com uma retrospectiva bem pessoal sobre 2015.

Estou com muito medo de 2016. Queria que meu ano tivesse parado em setembro de 2015 e ficado lá. Imóvel, intacto, perfeito. Esse medo só existe pq eu fico aqui, imaginando que nenhum outro ano vai ser tão bom quanto foi 2015.

Fiz uma lista de coisas boas e ruins que aconteceram nesse ano. E resolvi focar apenas nas boas. Depois que você aprende como fazer isso tudo fica bem mais simples, vai por mim.

Foi um ano de trabalho. Foi incrível. Trabalhei com pessoas extraordinárias (péssimas também, mas não vamos falar sobre elas). Pessoas que me surpreenderam positivamente. Me senti realizada, completa, feliz.

Foi um ano de conhecer muitas pessoas. Algumas (poucas) se tornaram amigas, outras apenas colegas. Outras me decepcionaram muito, mas pra quê ficar batendo nessa tecla?

Foi o ano de uma conquista muito importante. Tive que arriscar e tomar um decisão sozinha para ter essa conquista. Ainda há muito o que fazer, mas estou satisfeita.

Foi um ano de amor. E ponto. Não precisa de explicações.

Estou tentando não depositar muitas expectativas em 2016. Não criar comparações. Não será igual o que os últimos 351 dias foram. Mas vou fazer com que sejam 365 dias bons.

Feliz 2016.